Nossa história

A Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE) é a mais antiga associação de administradores educacionais da América Latina e a primeira associação brasileira da sociedade civil organizada no campo da educação depois da Associação Brasileira de Educação fundada no âmbito do movimento dos Pioneiros da Educação no início da década de 1930. Desde o seu nascimento, em 1961, a ANPAE e vem afirmando seu protagonismo como instituição que contribui para a construção do conhecimento e das práticas de gestão da educação comprometidas com uma educação pública, laica, de qualidade socialmente referenciada para todos e todas.

Na sua fundação em 1961, a ANPAE foi batizada como Associação Nacional de Professores de Administração Escolar. Subseqüentemente foi denominada Associação Nacional de Profissionais de Administração Escolar, em 1971, em Niterói; Associação Nacional de Profissionais de Administração Educacional, em 1976, em Brasília; Associação Nacional de Profissionais de Administração da Educação, em 1980, no Rio de Janeiro; e, finalmente, Associação Nacional de Política e Administração da Educação, em 1996, em Brasília, denominação vigente até hoje.

Cumpre destacar que, pese a essas transformações históricas, a entidade sempre manteve sua identidade associativa, que se reflete na sigla ANPAE, cunhada pelos mestres fundadores e que permanece como marca irredutível de sua missão político-pedagógica, certificando a autoria e confirmando o engajamento histórico de seu corpo associativo na construção do pensamento pedagógico e administrativo adotado na educação brasileira.

Uma introdução à história da ANPAE como sociedade civil no campo da educação*

BENNO SANDER

Este ensaio sobre história da ANPAE, como entidade acadêmica da sociedade civil organizada, tem por objetivo mostrar como a sua trajetória político-pedagógica se correlaciona com a própria trajetória da gestão da educação como campo de pesquisa e intervenção no cotidiano dos sistemas e instituições de ensino, refletindo os principais momentos e movimentos da história da construção do pensamento pedagógico e administrativo adotado na educação brasileira nos últimos 50 anos. Efetivamente, em menos de cinco décadas, a ANPAE foi batizada e rebatizada cinco vezes para refletir outros tantos momentos do processo de construção do conhecimento no campo da política e do governo da educação no Brasil. Nesse contexto, o ensaio examina os ritos de passagem que se materializaram nas cinco nominações historicamente protagonizadas pelo quadro associativo da ANPAE, para correlacioná-las com os movimentos e contradições que marcaram a genealogia do conhecimento no campo da política e da gestão da educação brasileira nas últimas cinco décadas. Ou seja, os nomes da ANPAE, como signos simbólicos que suscitam representações e adesão coletiva a princípios e regras constituem o fio condutor desta leitura.

Versão revisada e atualizada do ensaio A genealogia do conhecimento na administração da educação no Brasil e o papel da Anpae como entidade da sociedade civil. SIMPÓSIO Brasileiro de Política e Administração da Educação (23: 2007: Porto Alegre). Por uma escola de qualidade para todos: programação e trabalhos completos. Organizador Benno Sander. Niterói, RJ: ANPAE; Porto Alegre, RS: UFRGS/FACED/PPGEDU, Série Cadernos ANPAE, n. 4, 2007. 1 CD-ROM. ISSN 1677-3802.

GILSON R. DE M. PEREIRA

MARIA DA CONCEIÇÃO LIMA DE ANDRADE

Este estudo tem por objetivo descrever os modos pelos quais a administração da educação foi abordada, entre 1983 e 1996, numa específica instância de divulgação e consagração do campo educacional brasileiro, a Revista Brasileira de Administração da Educação (RBAE), hoje Revista Brasileira de Política e Administração da Educação (RBPAE), então periódico semestral e hoje periódico quadrimestral da Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE), destinado a apresentar e discutir questões teóricas e práticas da administração educacional. Parte-se da hipótese segundo a qual a construção ali realizada corresponde aos interesses de um grupo de agentes do campo educacional, cuja definição do perfil profissional especializado é correlativa ao processo de autonomia intelectual da disciplina. Neste estudo faz-se referência à administração da educação como disciplina acadêmica, isto é, como projeto de inteligibilidade do real e empresa de interpretação teórica e intervenção prática na educação. Além disso, a administração da educação é aqui uma especialidade profissional dotada de valores, técnicas e métodos, e também de um programa de transmissão de conhecimentos.

* Artigo publicado originalmente na revista Educação e Sociedade, Campinas, v. 26, n. 93, p. 1393-141, set./dez. 2005. Posteriormente, o trabalho foi republicado na Revista Brasileira de Política e Administração da Educação, Porto Alegre, v. 23, n. 1, p. 137-151, jan./abr. 2007. ISSN 1678-166X

GRAZIELA ZAMBÃO ABDIAN MAIA – UNESP/MARILIA

O texto trata da trajetória da produção teórica em administração da educação veiculada pela Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE). Examina os quatro primeiros textos dos Cadernos de Administração Escolar, publicados entre 1961 e 1968, e alguns números selecionados da Revista Brasileira de Política e Administração da Educação, editados entre 1983-2000, cujos temas são organizados em categorias, e analisa as de administração e gestão. Apesar de limitações conceituais apontadas pela autora, o trabalho reconhece que as publicações oferecem contribuições relevantes para o desenvolvimento teórico em administração da educação no Brasil.

* Artigo publicado originalmente na Revista Brasileira de Política e Administração da Educação, Porto Alegre, v. 24, n. 1, p. 31-50, jan./abr. 2008. ISSN 1678-166X

Depoimentos

ANPAE: Compromisso e orgulho*

RINALVA CASSIANO SILVA – UNIMEP

Depois de completar três décadas de vivência anpaeana e dois mandatos consecutivos na Presidência da Associação, o que posso transmitir aos meus amigos, colegas e interlocutores anpaeanos? As sensações são tantas e tão positivas que, confesso, temo acabar sendo ufanista.

O que é ser associado e dirigente da ANPAE, entidade que vem crescendo e se qualificando desde a sua fundação em 1961, merecendo o respeito e a credibilidade da academia, dos professores da rede pública e tantos outros atores que mantêm relações conosco? Do ponto de vista pessoal, tenho consciência que ser associado e dirigente da entidade implica em responsabilidade e solidariedade com um seleto grupo de colegas comprometidos com a melhoria das políticas e da gestão da educação. Também tenho consciência que, em matéria de política e gestão da educação, a ANPAE não tem respostas prontas; suas respostas nascem das indagações e debates em busca de iniciativas que possam contribuir para o avanço da educação no Brasil.

Os objetivos da ANPAE são claros: (1) propiciar e promover a prática associativa de todos os seus associados; (2) contribuir para o atendimento dos interesses coletivos de caráter profissional, sócio-cultural e acadêmico-científico dos associados, no que diz respeito às áreas de política, planejamento, gestão e avaliação da educação; (3) incentivar e promover estudos e pesquisas e a divulgação e comunicação científicas na área de política, planejamento, gestão e avaliação da educação; e (4) estimular e promover a cooperação e o intercâmbio de estudos e experiências educacionais com outras associações, instituições e organizações, constituindo-se como fonte de consultas e troca de informações.

Esses objetivos definem a identidade da ANPAE como promotora da prática associativa e prestadora de serviços à rede pública, trabalhando para uma educação de qualidade para todos. Trabalhamos pela democratização da educação como estratégia para garantir o acesso à educação de qualidade para todos, sem exclusão. Por outro lado, como membros de uma entidade acadêmico-científica, procuramos ultrapassar o cientificismo e academicismo tradicionais e superar barreiras e preconceitos na educação brasileira.

Nesse contexto, ser associado da ANPAE requer consciência de se fazer parte de uma entidade viva e dinâmica, empreendedora e promotora de uma cidadania autêntica. Costumo dizer que a ANPAE SOMOS TODOS NÓS, na certeza de que este é o espírito que move cada anpaeano a não medir esforços na luta pela formação cidadã e pela educação de qualidade para todos.

A ANPAE é uma das primeiras associações brasileiras dedicadas à educação e, ao longo de sua história, passou por várias direções e enfrentou contradições e questionamentos os mais diversos, mas sem nunca esmorecer no cumprimento de sua missão. Nesse sentido, considero que minha trajetória acadêmica não pode ser descrita sem fazer menção à ANPAE.

Entidade educacional pioneira da sociedade civil do Brasil, desde cedo estabeleceu redes de cooperação com entidades congêneres dos países irmãos das Américas e, a partir de 1999, mantém forte parceria com o Fórum Português de Administração Educacional e, posteriormente, com o Fórum Europeu de Administradores da Educação da Espanha. Todas essas parcerias mostram a força da ANPAE como entidade acadêmica da sociedade civil e destacam sua liderança no campo específico da política e da gestão da educação.

Dentro em breve a ANPAE comemorará seu Jubileu de Ouro, ocasião propícia para ressaltar sua trajetória de serviços prestados à educação brasileira, especialmente no campo das políticas públicas e da gestão democrática da educação. É sem dúvida um marco importante na vida da ANPAE e, como associada e ex-presidente, sinto-me honrada de poder prestar o presente depoimento sobre sua história.

* Depoimento escrito em Piracicaba, São Paulo, em 2003. Atualizado em 16 de janeiro de 2010 aos 49 anos de vida da Anpae.

LAURO CARLOS WITTMANN

A ANPAE tem sido para mim e para os que comigo militaram e militam um espaço social privilegiado. Numa época de desenraizamento territorial e temporal, vivemos o descarte dos provisórios. O terrorismo de grupos, implodindo as torres do capital, e o terrorismo de estado, retaliando e bombardeando os famintos, são a expressão trágica dos velhos valores. O novo que emerge é um presente eternal e um espaço desterritorializado. Este novo exige ética, cuja radicalidade é o respeito à vida, e exige solidariedade, cuja radicalidade é o respeito ao outro. A ANPAE tem sido um dos raros lugares de diálogo multilateral, onde o outro é respeitado pela alteridade, pela diferença e não pela concordância ou pela mesmice.

A ANPAE cresce como associação teórico-prática. Pela vinculação da prática associativa com o concreto, empapamos as mãos no cotidiano da construção de políticas, elaboração de planos, gestão de instituições e sistemas e avaliação da educação. Comprometidos com o concreto, evitamos a alienação na levitação retórica dos discursos academicistas. De outro lado, pela vinculação com a pesquisa não nos perdemos no sufoco do cotidiano, patinando no brejo do ativismo quixotesco.

As pessoas e suas organizações sociais são da mesma tessitura da sociedade na qual se constroem. Numa sociedade rachada e periférica, os educadores e suas associações tendemos a estar rachados e a ser periféricos. Ao mesmo tempo, pulsa em nós, como gente e como organização, o desejo, a resistência ao que é e a transcendência ao que será. Neste sentido é sempre presente, porque o passado invade a eternidade do futuro e o futuro está enraizado e já começou no começo do passado.

Como lócus de militância teórico-prática neste presente eternal e espaço desterritorializado, a ANPAE está comprometida com a emancipação humana, com a vida, com a solidariedade, com o pluralismo, com o multiculturalismo, com uma educação pública, laica, gratuita, estatal e de alta qualidade, especialmente para aqueles a quem tudo, até a educação, tem sido sistematicamente negado. Nos seus 40 anos, esta ANPAE somos nós, como militantes teórico-práticos, que, num processo dialético de contínua sobressunção, jogamos o passado na eternidade do futuro e construímos o futuro nascido da subsunção da eternidade do passado. Na ANPAE só dura o que passa, porque o que fica está apodrecendo. Esta ANPAE, mais instituinte do que instituída, mais anúncio do que dado, mais processo do que produto é uma expressão social da essencialidade humana que é sua transcendência, sua originalidade, a surpresa e o novo.

* Depoimento escrito em Florianópolis no dia 11 de fevereiro de 2001, por ocasião da celebração do 40º aniversário de fundação da ANPAE.

REGINA VINHAES GRACINDO

Em seus 46 anos de existência, a Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE) sempre foi identificada como um espaço democrático, onde as mais diversas posições político-acadêmicas tiveram guarida. Isto nunca a impediu, no entanto, de ter suas próprias posições. Assim, nos tempos da ditadura militar, foi espaço de resistência ao se posicionar contra todo tipo de arbitrariedade e ações antidemocráticas. Hoje, a ANPAE apresenta-se como uma das vozes discordantes da naturalização dada à competição e ao individualismo, numa sociedade onde a lógica econômica adentra o social e transforma tudo e todos em mercadoria.

Uma característica faz com que a ANPAE se destaque frente às demais entidades científicas: seu forte compromisso com a prática social da educação, especialmente com a que ocorre na rede pública de ensino. Por isso, além dos professores e estudantes das Instituições de Educação Superior, conta, em seus quadros, com significativa participação de dirigentes estaduais e municipais, diretores de escola e professores da rede pública de educação básica. Como conseqüência, suas pesquisas e ações buscam influenciar positivamente o processo educativo que ocorre nos sistemas de ensino e nas escolas brasileiras.

Outra peculiaridade da ANPAE é que seus ex-presidentes e outros dirigentes, depois de deixarem seus cargos, continuam participando ativamente de suas ações, tal como Benno Sander, que recentemente retornou à presidência da entidade, e como Maria Beatriz Moreira Luce, Maria Clélia Botelho, Lauro Carlos Wittmann, eu, Rinalva Cassiano Silva e Fátima Cunha Ferreira Pinto. E se eles não estivessem encantados, Antônio Pithon Pinto, Paulo de Almeida Campos e Carlos Corrêa Mascaro certamente estariam dando sua contribuição à ANPAE.

A história da ANPAE desvela seu amadurecimento político e acadêmico. E um dos momentos ricos nessa caminhada foi sua participação no Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública, desde a Constituinte, passando pela LDB e o PNE, quando, junto com outras entidades científicas, sindicais e profissionais, buscou influenciar na construção de políticas públicas de educação emancipadoras.

Com esses contornos, a ANPAE constituiu-se, no campo das políticas e da gestão da educação, como espaço de desenvolvimento de pesquisas, divulgação do conhecimento, formação e desenvolvimento profissional. Porém, os mais de vinte anos de associada e os quatro anos (1996/2000) em que tive a honra e o privilégio de ser sua presidenta, mostraram-me que a ANPAE é, sobretudo, lugar de solidariedade e ética, ingredientes indispensáveis na construção de uma educação democrática e de qualidade para todos os cidadãos brasileiros.

* Depoimento escrito em Brasília em julho de 2007

BENNO SANDER

No momento em que estamos preparando o Jubileu de Ouro da ANPAE, é hora de recordar o passado, analisar o presente e preparar o futuro. Ao recordar o passado, homenageamos nossos mestres fundadores que, reunidos na Universidade de São Paulo (USP), no dia 11 de fevereiro de 1961, por ocasião do encerramento do I Simpósio Brasileiro de Administração Escolar, decidiram criar a ANPAE. Tive o privilégio de conhecer e conviver com a maioria dos mestres fundadores e recordo com emoção o histórico exercício de seus direitos e sua visão política para organizar nossa entidade de educadores dedicados ao estudo, à docência e ao exercício da política e da gestão da educação no Brasil.

 

Assim como o fizeram nossos mestres fundadores, cada um de nós vem construindo sua história anpaeana. Juntos, ao longo de cinco décadas, escrevemos, capítulo a capítulo, a história da ANPAE. Todos somos, portanto, autores de pleno direito dessa história. Alguns tiveram o privilégio de protagonizar o nascimento da Associação em 1961 e de escrever seu primeiro capítulo. Outros testemunharam a trajetória da Associação na sua primeira década de formação e consolidação. Outros eram mais jovens ou estavam no exercício de outras atividades profissionais, como muitos de nós, que hoje nos preparamos para celebrar o 50º aniversário da ANPAE.


Assim como nossos mestres fundadores souberam fazer a hora para estabelecer a ANPAE, hoje nos compete fazer a hora para reviver a história anpaeana em sua dimensão coletiva e sua dimensão individual. Nesse contexto, recordo que ingressei na ANPAE em 1971 e fui eleito presidente em 1976, entrando definitivamente na vida da ANPAE para dela nunca mais sair. Considero a passagem pela Presidência da ANPAE um privilégio pessoal e profissional. O privilégio veio acompanhado de esforços para promover a construção coletiva do conhecimento e a adoção de medidas institucionais capazes de desenvolver uma visão de educação de qualidade, baseada na liberdade e na igualdade, na defesa dos direitos humanos e na promoção do desenvolvimento social sustentável.

 

Além de recordar o passado, a preparação de nosso Jubileu de Ouro nos incentiva a pensar o presente e preparar o futuro, à luz das lições aprendidas no passado. A avaliação da trajetória política e intelectual da ANPAE revela que o trabalho inicial dos mestres fundadores lançou boas sementes em terra fértil para uma caminhada frutífera de cinco décadas de vida, marcadas por um permanente compromisso com a renovação educacional e a transformação social. Esse compromisso reflete-se na preocupação permanente de seus dirigentes e na ação cotidiana de seus associados. Reflete-se, igualmente, nos conteúdos de suas pesquisas e publicações e nos programas de seus simpósios nacionais, congressos internacionais e seminários regionais e estaduais.

 

Nossa participação coletiva em distintos momentos de nossa caminhada revela que a ANPAE tem sido e vem sendo palco de debates e conquistas importantes, que contribuíram e vem contribuindo para definir os contornos da política e da gestão da educação como campo de estudo e prática profissional. Entre as conquistas é particularmente grato destacar a fundação e consolidação da Revista Brasileira de Política e Administração da Educação e a vocação histórica da ANPAE para trabalhar em parceria com associações e entidades congêneres da sociedade civil organizada no campo da educação, como a ANPED, ANFOPE, FORUMDIR, CEDES, CNTE e outras organizações não-governamentais de educação e desenvolvimento social sustentável. No âmbito internacional, destaca-se a participação da ANPAE com outras associações profissionais e instituições educacionais na realização de projetos multinacionais, com referência especial para os congressos luso-brasileiros, latino-americanos, ibero-americanos e interamericanos.

Para terminar este depoimento, gostaria de sugerir que a ANPAE se tornou nossa escola, onde estudamos e avaliamos coletivamente a política e a gestão da educação no Brasil. Minha esperança é que continuemos a fazer da ANPAE a nossa escola como espaço público de aprendizagem e educação permanente, nossa arena política e pedagógica, em que todos e cada um de nós somos protagonistas de um esforço coletivo de educação. Isso somente será possível se a ANPAE continuar a ser uma agremiação inclusiva, baseada num processo histórico de ação humana coletiva. Na ANPAE sempre houve espaço para o encontro e o confronto de posições ideológicas, de correntes intelectuais e de orientações metodológicas. É assim que conseguimos construir, ao longo dos anos, um espaço político-pedagógico transparente e aberto. Mais do que a transparência em aspectos administrativos, é preciso continuar a buscar sem trégua a abertura e transparência em matéria intelectual. Só assim a ANPAE continuará sendo uma escola viva de democracia e cidadania, como, aliás, deve ser toda escola, da creche à universidade. Confio que nesta nossa escola possamos continuar a conviver com nossas diferenças e a exercer a cidadania na sua plenitude. Essa foi a grande preocupação de Paulo Freire em sua “pedagogia dialógica,” fundada na ética da autonomia e da convivência humana que ele defendeu desde a sua Pedagogia do Oprimido em 1966 até a sua Pedagogia da Autonomia em 1996. Esse foi também o grande ideal de Anísio Teixeira, José Querino Ribeiro, Antônio Pithon Pinto, Carlos Corrêa Mascaro, Paulo de Almeida Campos e seus associados em 1961, ao fundarem a ANPAE como espaço de construção no campo das políticas públicas e do governo da educação.

 

Que esse continue sendo nosso ideal, nossa preocupação, nossa missão como Associação. Essa será a melhor maneira de homenagearmos nossos mestres fundadores. Essa será a melhor maneira de continuarmos nossa educação permanente em matéria de políticas públicas e gestão da educação. Essa será, enfim, a melhor maneira de contribuirmos para a consolidação de um processo democrático de educação popular e formação cidadã a serviço dos ideais éticos de liberdade individual e eqüidade social e dos valores culturais de nossa Terra.

* Depoimento apresentado na celebração do 40º aniversário de fundação da ANPAE em 11 de fevereiro de 2001 e atualizado em 5 de janeiro de 2010.
plugins premium WordPress